18/11/2016

As Riot Grrrls pelo mundo

Por Ana Carolina Barbosa

O movimento Riot Grrrl surgiu nos Estados Unidos nos anos 90 e ganhou repercussão pelo mundo através de suas bandas e festivais de punk rock, um dos principais meios de disseminação das ideias do movimento.

As integrantes das bandas pioneiras, como Bikini Kill e Bratmobile, serviram de fonte de inspiração para várias garotas e mulheres se juntarem à elas, fazendo com que surgissem muitas novas bandas de punk rock femininas nos anos 1990. Apesar de ser algo mais concentrado nos Estados Unidos, várias bandas surgiram também em outros países, como no Reino Unido, como exemplo Babes in Toyland, Huggy Bear, Linus, Pussycat Trash e Skinned Teen, e no Brasil, como as bandas Dominatrix, Kaos Klitoriano, Bulimia, No Steriotypes, Cosmogonia, As Mercenárias e Menstruação Anárquica, She Hoos Go.

Babes in Toyland (UK).

Babes in Toyland (UK).
Huggy Bear (UK).

Banda brasileira Dominatrix, precursora do movimento no Brasil e ainda ativa.

Show da banda Dominatrix.
Kaos Klitoriano (BRA).
She Hoos Go (BRA).

As riot grrrls eram muito diversas esteticamente, o foco mesmo era a música e o feminismo. A roupa era usada como forma de protesto, nada de “bela, recatada e do lar”, o que elas queriam era ser donas de seus próprios corpos e poder mostrá-los da forma como quisessem. Usavam a feminilidade de forma provocativa, quebrando os estereótipos do feminino. Usavam os zines e sua estética corporais como maior instrumento de ativismo, e sua estética e indumentária não sendo algo padronizado se comparado a outros países não se modifica drasticamente de um para outro, já que descendem do estilo punk rock e hardcore. As variações dependem da interpretação de cada pessoa sobre a sua personalidade e ideais próprios expressas em forma de roupa, maquiagem e cabelo. Por isso, há uma grande variedade de peças que podem ser ditas como usadas pelas riot girls.

Pedacinhos de Riot Grrrl nas Teddy Girls

Por Jéssica Amanda

Ao nos depararmos com uma subcultura, seja ela qual for, podemos ver que as pessoas que a compõem possuem um estilo de vida, pensamentos, idéias, e modos de se vestir próprios que os caracterizam por pertencer a esse grupo e não a outro. Então, quando olhamos para uma outra tribo que se distancie, seja por questões de espaço temporal, de espaço físico ou esteticamente dessa primeira que foi analisada, é curioso que ainda assim podemos encontrar elementos em comum entre elas. Isso aconteceu quando estava pesquisando sobre a estética do movimento Riot Grrrl.

As Riot Girls foram, em sua maioria esmagadora, meninas que se reuniram inicialmente na década de 1990 nos Estados Unidos, para discutir e expor por meio da música punk rock, das fanzines, da sua estética e de seus comportamentos sobre os direitos das mulheres, no que diz respeito aos papéis sociais e padrões de belezas que elas deveriam seguir para serem aceitas em sociedade. Essas causas vêm sendo discutidas até hoje, também de outras formas como na moda, sendo tema de desfiles, de propagandas de marcas e produtos, e de discussões em blogs.

Como essas meninas do movimento Riot Grrrl estavam inseridas nesse cenário de música punk, de busca de independência visual e de autonomia para fazer suas escolhas, as suas vestimentas e estilos seguiram essa ideia. Apesar de não haver uma rotulação de como as suas roupas, maquiagem e cabelos deveriam ser, podemos ver uma referências do punk, heavy metal, no wave, grunge, kinderwhore, do vestuário masculino e da moda dos anos 60 em suas composições.

Bikini Kill





Elas queriam ser julgadas por suas personalidades, por isso não faziam questão de parecerem bonitinhas, meigas ou bem comportadas. Sendo assim, as mulheres usavam um mix de peças leves como baby look, t-shirts, saia evasê ou mais sensuais como minissaias, vestidos curtos, lingerie junto a calçados, como botas, coturnos e tênis All Star, dando um ar mais pesado ao look.

Ou ainda se utilizavam das vestimentas masculinas, tais como bermudas e bonés, e raspavam a cabeça, como forma de fazer a desconstrução de gênero, o que pode ser visto também nas letras da músicas. Elas também faziam uso de piercings e tatuagens, utilizando seu corpo como discurso político.

Sleater-Kinney




Entre outras características da sua indumentária são o uso de dreadlocks, moicanos, o não uso de maquiagem, e as combinações ousadas.  A sexualidade era frequentemente enfatizada, ainda que por um ponto de vista agressivamente feminino.

Bratmobile



Após observar alguns dos vários estilos que uma riot girl poderia ter, lembrei de um outro grupo de garotas que inovaram esteticamente em seu modo de vestir e de se comportar, principalmente nas práticas ligadas ao lazer, como a moda e a música rock'n roll e o jazz, também fugindo dos padrões da sua sociedade. Os Teds, que seriam os Teddy Boys e Teddy Girls, uma das primeiras subculturas juvenis, que surgiu na década de 1950, em Londres. Eles usavam a estética inspirada na Era Edwardian, o dandismo.

As garotas Teddy Girls também eram conhecidas como Judies, tinham entre 14 a 17 anos e já haviam largado a escola por volta dos seus 14 anos, começando a trabalhar como secretárias ou em fábricas nas periferias de Londres. Como muitos de vocês podem saber, a década de 1950 foi marcada pela silhueta do New Look da Dior e seu romantismo, então surgem essas garotas, que eram marginalizadas pela mídia, com uma estética andrógina, trazendo o vestuário dos teddy boys para o estilo do grupo. Paletó, jaquetas, blazers, coletes, calças, laços finos no pescoço e os topetes, utilizando bastante fixador para moldá-los, porém não deixando de ser femininas.

Fotografia por Ken Russell

Jean Rayner (14 Anos) - Fotografia por Ken Russell

Além dos topetes, precursores do penteado mohawk, a vestimenta do guarda roupa masculino também é um outro aspecto em comum com as Riot Girls.

Fotografia por Ken Russell

Fotografia por Ken Russell
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O curioso é que essas fotos acima, produzidas pelo fotógrafo e diretor Ken Russell, são um dos poucos registro dessa subcultura. Publicadas em 1955, elas teriam desaparecido e só foram encontradas novamente em 2005, quando uma caixa com os negativos de Russell fora descoberta e com ela as fotos das Teddys Girls.

17/11/2016

Urbanas, empoderadas e bem POWER

Por Ana Carolina Barbosa

Encontrar mulheres com características Riot Grrrl nas ruas é algo cada vez mais frequente. Mulheres empoderadas, cheias de atitude vêm ganhando força no nosso espaço urbano, cheias de ousadia e super seguras de quem são e do que querem!

Buscamos encontrar dentro desse universo power muita atitude na hora da expressão visual, looks de força e sensualidade foi o que miramos e acertamos. Com cliques e poses descontraídos no meio underground que os barzinhos de rua, espaços urbanos e com muita diversão e música da boa trazem, ambientes esses que as atraem e que fazem a noite valer a pena.

Confira alguns dos looks dessa caçada e aproveite pra se inspirar:


E que tal começar com esse look F*DA?
Não precisa de make profissional para ser linda e cheia de atitude, vá de cara limpa! Essa grrrl tem um estilo carregado de personalidade, com sainha xadrez, que foi o que inspirou o clique, e claro que as tatuagens chamam toda a atenção para essa mulher incrível! E, na nossa opinião, não tem frase que a descreva melhor do que “meu corpo, minhas regras”.


Menina doce, mas de coração valente! Ela transborda personalidade e é super engajada no empoderamento feminino. Ser quem você é, e quem gostar do que você ver refletindo. Essencial na hora de falar em empoderamento, cropped, sainha e tênis, tem look melhor que esse? Conforto e sensualidade andam juntinhos a ela, quebrando padrões em tudo, e esses cachos são o charme do rostinho tímido e meigo que ela tem. Só amor *-*


GIRLS CAN DO ANYTHING!!! 
Um cabelinho rosa para começar a falar dessa querida. A frase cheia de força e inspiração combinada com esse sapato, deu todo o toque despojado e confortável no look escolhido por ela. Um olhar marcante (embora não o mostre na foto) cheio de conquistas e poder, porque ela é toda poderosa!


E tem também inspiração de uma carioca cheia de atitude e confiança! Cabelos curtos, botinha e f*dasse os padrões mulherzinha. Para curtir com os amigos, escolheu o conforto que só um shortinho jeans e a nuca respirando podem trazer. Subir e descer as ladeiras de Olinda de salto nem pensar, escolheu a botinha e optou mais que certo. Fica a dica! ;)


A maior lésbica que você respeita! Sem frescura, sem pudor, ela é maravilhosa e cheia de engajamento na hora de falar em feminismo e tudo que a sociedade padroniza como “certo” e “errado”. Uma inspiração de vida, literalmente!


“AMIGAA, agora eu sou do movimento! E desde quando a pessoa com o 1,5m de altura é modelo? KKKKKKK”
Essa personalidade que encontramos num happy hour com a amiga foi super descontraída e cheia de simpatia na hora do clique. Só vem felicidade ao olhar pra essa foto. Seu kimono (que não dá pra ver direito na foto ¬¬) todo de animal print, com o vestidinho e sua fenda, ousada é ela viu?! Ainda jogou uma botinha pra dar aquela despojada legal e mostrar que dá pra ficar arrumada com estilo e poder.


Esse trio… sem palavras, um tiro!
Temos creeper, macacão, sainha e cabelos fora do “padrão” de beleza. Elas são power total, e juntas o destaque era só elas. Ter cabelo raspado é mostrar o dedo do meio para o mundo e dizer quem ela é e a força que uma mulher tem sem cabelo grande.


Essa mulher é o poder! Aquela história das tatuagens… <3
Ela exala estilo, atitude e empoderamento. Mini saia, jaqueta e bota, aiai… essa mulher é uma inspiração, vocês não tem noção de como foi bom cruzar com ela. Opinião própria, estilo próprio, nada de modinhas e meia boca. Ela sabe o que quer, sabe onde quer chegar e sabe o que temos que conquistar! Só falta a banda e as zines, porque o resto ela tem, hahaha!


Miga sua lokaaa
Estilo ousado e cheio de atitude, ela mostrou que saia com fenda e cropped podem fazer parte do mesmo look e ser totalmente oposto do vulgar. Dá pra ser Nordestina e usar look todo preto sim! Ainda trás esse cabelinho rosa, que amamos com toda força.


E pra fechar essa porrada na cara (tanto nos looks como para você levar pra vida) que foi esse post, tem uma integrante do blog posando de inspiração na caçada para as fotos desse post, kkkkk!

Composição de muita ousadia que essa menina traz consigo todos os dias, não leva desaforo machista pra casa, adora um movimento e uma diversão. Conforto e empoderamento são os escolhidos sempre! Acreditamos ser uma figura que tem a cara do movimento Riot Grrrl, em vários sentidos, mas isso pode ser falado em outra ocasião. Foca no look e nas tatuagens, porque são fatos super marcantes em uma mulher de poder.

Festivais Riot Grrrl

Existem vários festivais de música, arte e comédia ao redor do mundo com bandas e artistas feministas que difundem as ideias do movimento Riot Grrrl. Listamos alguns deles a seguir:

LADYFEST



O Ladyfest é um festival de música e arte voltado para artistas feministas que ocorre em vários países ao redor do mundo há 16 anos. Cada edição do festival pode ser diferente, mas geralmente apresenta uma combinação de bandas, grupos musicais, artistas, escritores, filmes, palestras, exibições de arte e workshops - que variam entre temas como serigrafia, carpintaria, stop-motion e crochê. Todas as edições são organizadas por voluntários e o dinheiro arrecadado é doado para organizações não governamentais.

O primeiro Ladyfest aconteceu na cidade de Olympia, nos EUA, em agosto de 2000, e contou com a participação de bandas riot grrrl como Sleater-Kinney e Bratmobile, entre muitas outras. A primeira edição brasileira ocorreu em São Paulo, em 2004, e contou com bandas, workshops, exposições e exibições de vídeos. O Ladyfest também inspirou o surgimento de eventos como o LaD.I.Y.fest em Berlim, o Grrl Fest em Melbourne, e o Grrl Fair na Califónia, EUA.

Sleater-Kinney no Ladyfest Olympia 2000. Créditos: fuckyeahgrrrlrock.

Ladyfest Bruxelas 2012. Créditos: Echopublishing

Ladyfest Baltimore 2014. Créditos: Josh Sisk

Ladyfest Baltimore 2014. Créditos: Josh Sisk
Ladyfest Baltimore 2014. Créditos: Bora Chung

HARD GRRRLS



O Hard Grrrls era um site sobre cultura punk rock feminista que surgiu nos anos 2000 e ficou ativo até 2006. Inicialmente, o site listava bandas femininas e músicas para download, mas logo virou um coletivo, com colunas, entrevistas com as bandas, e passou a falar sobre outras artistas mulheres em geral.

Em 2004, o site se transformou em festival, com várias edições em São Paulo, e até em outras cidades como Piracicaba, Curitiba e Belo Horizonte, com debates, exposições e shows de bandas. Depois de alguns anos sem acontecer, o Hard Grrrls teve uma nova edição em 2016, e com o sucesso do evento, a organização pretende continuar com várias outras edições. A idealizadora Lúcia Ellen e a antiga colunista do site Hard Grrrls, Pryka Almedira, agora colaboram para a revista mensal AzMina.

Festival Hard Grrrls 2016. Créditos: Vice

Festival Hard Grrrls 2016. Créditos: Vice

Festival Hard Grrrls 2016. Créditos: Vice

Festival Hard Grrrls 2016. Créditos: Vice

Festival Hard Grrrls 2016. Créditos: Vice

3. LAUGH RIOT GRRRL



O Laugh Riot Grrrl é um festival de comédia que acontece todos os anos no Tao Comedy Studio, em Los Angeles, para riot grrrls e boys que apoiam a causa feminista. O festival foi inspirado pelo movimento riot grrrl e tem a ideologia de encorajar mais grrrls a fazer comédia stand up, improvisação, open mic etc., e a apoiar grrrls (e boys) que o fazem, como também a criar espaços seguros para mulheres neste meio. Com o objetivo de criar uma revolução através da comédia, o festival oferece também workshops sobre stand up, improvisação e meditação, entre outros.

Imagens do Laugh Riot Grrrl Festival 2015. Créditos: @laughriotgrrrl

21/10/2016

Pesquisa de temporadas: Meadham Kirchhoff

A aclamada Meadham Kirchhoff ganhou reconhecimento por suas criações opulentas e produções de desfiles teatrais. A marca, criada em 2006 pelos designers Edward Meadham e Benjamin Kirchhoff, que se conheceram na época em que estudavam na prestigiosa faculdade de moda londrina Central Saint Martins, infelizmente fechou as portas em 2015, por conta de dívidas crescentes. Eles deixaram, no entanto, um legado inspirador e a coleção Outono / Inverno 2011 mostra isso.

Essa coleção foi inspirada pelo movimento Riot Grrrl e pela Chanel. Os designers interpretaram a música raivosa e barulhenta das riot grrrls sem precisar adicionar elementos "clichês" do punk, como couro e tachinhas. Em vez disso, eles olharam para a ética D.I.Y. (Faça Você Mesmo) do punk, e tão forte no movimento Riot Grrrl, e mostraram uma forma de rebeldia por meio de vestidos que pareciam mais uniformes, com meias compridas e suéteres, e através de bordados que lembravam os desenhos e rabiscos das zines Riot Grrrl.


Outra coleção que expressa claramente a influência do movimento Riot Grrrl e da música punk na produção criativa dos designers foi a coleção de Outono / Primavera 2015. Com inspiração na cultura rebelde juvenil, teve a blogueira, fotógrafa e artista feminista Emma Arvida Bystrom abrindo e fechando o desfile, além de contar com modelos não convencionais, encontrados pelas ruas de Londres. Os looks tiveram inspiração nas fanzines, no punk, no feminismo, com roupas de atitude e quebrando tabus. A mensagem que a Meadham Kirchhoff quis passar foi de celebração de uma mistura de subculturas com que se identificam, ao mesmo tempo condenando elementos problemáticos da indústria da moda, que muitas vezes contribui para a opressão feminina.


O desfile teve detalhes inusitados, como absorventes internos amarrados e pendurados nas árvores dos cenário do desfile, que também faziam de brincos e detalhes nos looks.

Na revista online RookieMag, o designer Edward Meadham compartilhou fotos do processo de criação dessa coleção e do styling do desfile. No seu moodboard podemos encontrar imagens de bandas e músicos como The Slits, Siouxsie, Viv Albertine, Johnny Thunders, e de Kathleen Hanna, que incorporam o espírito de liberdade e criatividade da coleção.


A coleção foi chamada "Reject Everything" (em português, Rejeite Tudo), pois os designers sentiam, enquanto criavam essas roupas, que estavam rejeitando a homofobia, a misoginia, a censura, o mito de liberdade, a sociedade em que viviam, a indústria da moda. Eles queriam tratar sobre rejuvenescimento, renascimento, rebelião e protesto.

Além disso, o designer Meadham compartilhou inspirações e ideias para os calçados usados no desfile, como uma sandália usada num desfile de Vivienne Westwood, 1982 (o Punkature). Outras imagens que podem ser encontradas no site são a seleção de modelos e a prova de roupas, como também fotos de um zine criadas por eles, que foi distribuída durante o desfile.


Algumas imagens da zine divulgada durante o desfile:


Fontes: Vogue, RookieMag

14/10/2016

Garimpo fashion: estética Riot Grrrl presente nas lojas do RioMar shopping

Recentemente, fizemos uma visita técnica ao RioMar Shopping, onde desenvolvemos uma pesquisa de tendências, buscando elementos nas lojas que remetessem à estética Riot Grrrl. O resultado se encontra nessa apresentação a seguir:

 

25/08/2016

GIRLS TO THE FRONT!

PORQUE eu acredito com o todomeucoraçãocabeçacorpo que garotas constituem uma força revolucionária que podem, e irão, mudar o mundo de verdade.


Olá! Somos três estudantes de Design de Moda e criamos o blog para compartilhar informações sobre o movimento Riot Grrrl, como parte do Projeto Integrador do terceiro módulo da faculdade. Pretendemos divulgar aqui informações sobre o movimento como representação cultural e comportamental, discutir sobre a estética, as bandas, as zines, os festivais, e as suas influências que reverberam até hoje. Além disso, pretendemos mostrar pesquisas de moda e de tendências inspiradas nas riot grrrls.

Para começar, vamos fazer uma breve apresentação dessa subcultura que escolhemos:


O Riot Grrrl foi um movimento feminista underground de punk rock originário em Washington, DC, e na região do Noroeste Pacífico norte-americano, no início da década de 1990. O movimento era alimentado pela raiva contra a misoginia presente nas notícias nacionais e nas cenas musicais. As riot grrrls buscavam dar voz às mulheres dentro de uma cena punk machista, dominada por homens que não as consideravam capazes de tocar instrumentos “masculinos”, como guitarra, baixo e bateria, deixando-as relegadas a papéis de namoradas, groupies ou cantoras de fundo. O Riot Grrrl incentivava as mulheres e garotas a iniciarem as suas próprias bandas de punk rock, tomando a frente dos palcos.

O movimento também incentivava a criação de zines, publicações amadoras no estilo faça-você-mesmo, que eram fotocopiadas e distribuídas em shows, eventos ou pelos correios, usadas como formas de comunicação entre as garotas. As zines abordavam uma variedade de tópicos feministas, frequentemente tentando explorar temas como sexismo, doenças mentais, distúrbios alimentares, abuso sexual e emocional, racismo, estupro, discriminação, violência doméstica, incesto, homofobia, entre outros assuntos. Eram uma forma de expressarem as suas opiniões e vontades sem censura.

Algumas zines Riot Grrrl: Bikini Kill, Runt, Girl Germs e Jigsaw.

As letras das músicas Riot Grrrl geralmente falavam de questões como estupro, violência doméstica, sexualidade, racismo, patriarcalismo, e empoderamento feminino. Supostamente, não deveria haver um líder para o movimento. Mesmo assim, a cantora Kathleen Hanna acabou sendo a grande figura deste, e sua banda, Bikini Kill, é geralmente vista como a banda riot grrrl “exemplar”. Outras bandas envolvidas no movimento foram: Bratmobile, Heavens to Betsy, Sleater-Kinney, L7, Excuse 17 e Emily’s Sassy Lime, nos Estados Unidos; Huggy Bear, Pussycat Trash e Skinned Teen, no Reino Unido. No Brasil, a Dominatrix é considerada a principal banda Riot Grrrl no país. A cena brasileira também contou com outras bandas, como as já extintas Bulimia e Kaos Klitoriano, e a ainda atuante, She Hoos Go.

Show da banda Bikini Kill, em 16 de novembro de 1991, em Washington DC. Organizado pela Positive Force DC para arrecadar fundos para uma organização de direito humanos filipina. Foto por Brad Sigal. 
Em 1991, no segundo volume da zine Bikini Kill, chamada Girl Power e escrita por Tobi Vail e Kathleen Hanna, foi publicado o Manifesto Riot Grrrl, que listava as razões do movimento ser necessário:

Clique para ampliar.
No blog Cabeça de Tédio você encontra uma tradução completa para o português do manifesto. Em 2013, para celebrar o lançamento do livro "Riot Grrrl Collection", Kathleen Hanna leu o manifesto que havia escrito aos 21 anos de idade:



As riot grrrls nunca desapareceram de verdade, apesar de membros originais do movimento terem se espalhado, criando novas bandas em novas gravadoras. É possível ver um "renascimento" do movimento, acontecendo em momentos diferentes, em países diferentes, com bandas novas, encontros, eventos e grupos online. Uma das coisas boas desse revival é que oferece uma oportunidade de tratar de questões problemáticas do início do movimento, como a falta de inclusão de pessoas de cor (POC) e trans.

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Espero que tenham gostado dessa pequena introdução e que acompanhem as próximas postagens!